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A questão da Sociologia no Ensino Médio, não é algo específico sobre uma simples vocação que vários de nós estudantes podemos assumir depois do período de graduação. Na história da educação sempre se misturou com o caráter da Universidade no Brasil, desde sua origem até os tempos atuais.
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A Universidade de São Paulo, por exemplo, nasceu fruto de uma necessidade da elite paulistana retomar sua hegemonia dentro do cenário nacional, após a derrota militar em 1932 pelas tropas de Getulio Vargas. Com isso se colocava o objetivo da formação de quadros da elite econômica, com dirigentes capacitados para fazer o Estado crescer do ponto de vista político e cultural, porém descartando totalmente o princípio da educação universal e fazendo com que as classes sociais subalternas ficassem marginalizadas desse processo.
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Essa diretriz fazia com que o Instituto de Educação na década de 30 na USP fosse separado das demais faculdades e centros de conhecimento. Separando aquilo que era pesquisa científica, daquilo que era magistratura e formação dos professores. Só depois de 30 anos foi criada a Faculdade de Educação, com seus docentes se equivalendo a professores da Universidade, porém ainda herdando vícios do passado que se perpetuam até hoje.
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Nas outras Universidades Brasileiras esse processo foi bastante semelhante no que diz respeito a separação dos campos de formação intelectual e e de magistratura. Com o desenvolvimento econômico e a necessidade
da ampliação da mão de obra semiespecializada,a educação teve que ir de forma truncada se expandindo para os setores mais populares, porém nunca de forma universal. O que resulta hoje que mais de 70% dos jovens do Brasil não tem acesso a Universidade.
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O professor Florestan Fernandez em “O Ensino de Sociologia na Escola secundária brasileira” nos anos 50 indaga a sociedade justamente pela relação de como os problemas que existem desde o ensino superior se refletem no ensino secundário. Pois ao contrastar esses aspectos, propunha mudar radicalmente as bases do ensino brasileiro, fundamental e médio, voltado desde sua origem para objetivos pragmáticos e corporativos. Reformas e mais reformas na educação passaram e nunca os questionamentos de Florestan foram respondidos. Os argumentos técnicos e a razão instrumental sempre tiveram mais espaço dentro da política brasileira, do que a percepção crítica da realidade num espaço amplo de análise e reflexão. O ensino no Brasil tem como seu motor a fonte de lucros dos grandes monopólios e não a formação de conhecimento da juventude trabalhadora da periferia e da população em geral.
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A última orientação geral para a Educação no Brasil, criada por Fernando Henrique Cardoso em 1996, e continuada por Lula em 2002, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) abre espaço para a formação e o desenvolvimento de uma mercado privado da educação superior que busca “popularizar” a universidade,
porém de forma precária e sem excelência acadêmica. Vários centros particulares abrem as portas de olho na isenção fiscal e oferecem cursos “sucateados” voltados diretamente para suprir carências no mercado de
trabalho. Desse processo o que resultou foi que a universidade continua sendo antipopular, com apenas 26% dos matriculados no ensino superior serem de instituições públicas.
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Proliferaram então diversos cursos de curta duração para diferentes áreas do mercado de trabalho, que geralmente oferecem salários baixos e condições de vida instáveis. Porém, ainda assim tem uma grande demanda, pois é mais instável ainda ficar sem emprego. Nesse percurso, foi que a bandeira histórica já citada aqui de Florestan ao mesmo tempo que foi retomada, também se dissolveu na lógica mercantil.
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A aprovação da Lei nº11.684 que prevê a obrigatoriedade do retorno das disciplinas de Filosofia e Sociologia no Ensino Médio, depois de quase 40 anos que a Ditadura Militar impôs a Educação moral e Cívica, infelizmente vai mais no sentido de satisfazer o mercado privado da Educação do que a formação de
conhecimento como queria o profº Florestan Fernandes. Não somos a favor de cursos a distância e de pequena duração para satisfazer os cofres das Universidades Particulares . Entretanto, a resposta também não deve ser a que atualmente nós estudantes de Ciências Sociais estamos cansados de ouvir nos corredores da faculdade. “...Que a PucSP não precisa ter como objetivo formar professores para o Ensino Público...”. Pois, volta para mesma lógica (uma outra face da mesma moeda) de uma educação elitista nos marcos de como foi fundada a Universidade no Brasil.
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Queremos o nosso direito de ter licenciatura para podermos dar aula para os filhos e filhas de trabalhadores e do povo que estão no ensino médio público, porém questionando de fundo o caráter e o perfil do atual currículo da Ciências Sociais, assim como a estrutura de poder antidemocrática que existe na Universidade onde não temos nenhum espaço para desenvolver esse tipo de relfexão.
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Infelizmente quem pode decidir tal questão hoje é só os conselhos controlados desde o ano passado de forma unilateral pela Fundação São Paulo com a criação do CONSAD. Cobramos e exigimos da faculdade de Ciências Sociais, em primeiro lugar, um posicionamento público sobre tal questão: Até quando ficaremos sem licenciatura em nossos currículos? E sabemos que não existe termos judiciais e legais que impeçam tal processo, pelos próprios aspectos que ressaltamos até aqui.
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A licenciatura no currículo da Ciências Sociais não pode ser decretada com uma pincelada pelo Reitor ou por um padre representante da fundação São paulo. Desse jeito permanecerá o problema estrutural que existe entre o mercado e o conhecimento. Queremos retomar a história e tradição dessa Universidade e fazer com que os espaços de decisão voltem a ser de fato democráticos, sem a intervenção da Fundação São Paulo, com representação direta do corpo discente e com voto universal sem paridade
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Reivindicamos um espaço para nós, estudantes de Ciências Sociais, pautarmos nossas demandas como a Licenciatura, como também para nossos colegas da História, que tem vários problemas em relação a grade curricular que foi desmoronada nos últimos anos, ou como os estudantes de Filosofia que não podem nem panfletar materiais nos corredores da PUCSP.
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Não queremos uma Licenciatura aos moldes mercadológicos que na PucSP
representaria um aumento ainda maior nas mensalidades e uma consequente precarização do seu conteúdo em relação a metodologia, pesquisa e formação.
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Com esse intuito, nós estudantes da Ciências Sociais formamos uma Comissão pela Licenciatura justamente para chamar professores e estudantes, através da representação direta e universal, a pensar na elaboração de um projeto que recoloque a Licenciatura para o currículo. Processo este que deve se iniciar imediatamente, para que os estudantes ingressantes a partir de 2006 também possam desfrutar desta formação.
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● Que a faculdade Ciências Humana se posicione sobre a implantação da Licenciatura no currículo da ciências Sociais.
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● Por uma Licenciatura, sem nenhum custo adicional nas mensalidades e sem sucateamento da grade curricular.
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● Por uma comissão composta por estudantes, funcionários e professores que através da representação direta encaminhe um projeto para implantação da Licenciatura no curso.
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● Basta de tantos problemas nos cursos e nós estudantes não termos espaços para modificar a realidade acadêmica. Pela representação direta e com maioria estudantil nos conselhos da faculdade.
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Comissão Pela Abertura da Licenciatura na Faculdade de Ciências Sociais
São Paulo,
05/10/2009
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